Ela guardou o sorriso no bolso e soltou um longo e doído suspiro.
Sabia que as roupas de alegria demorariam muito a ser vestidas novamente.
Ela sabia que aquele dom era pessoal e intransferível.
A ânsia de viver que ele tanto via nela era em parte retroalimentada pelo sorriso dele.
Respirou fundo, tentou entoar um cântico, invocar um mantra, mas não saiu de sua boca um único som.
Estava oca, opaca, meio morta.
Eles esperaram tanto um pelo outro, mas a morte não perdoou a vida por esse arroubo de esperanças.
Eram tempos difíceis. Como haveriam assim de sorrir?
Como haveriam de desafiar a dor e a maldade ao redor?
Como cocriar sonhos em meio à dor, à morte e ao desespero?
Eles foram ingênuos e desatentos, foram pegos por um deslize fatal.
A morte aguardava na esquina, o desespero agonizante do final.